O Papa: migrantes provados pela sede e a fome. Deus caminha com eles

Na mensagem para o 110º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que se celebra em 29 de setembro, Francisco nos convida a rezar por aqueles que, fugindo dos abusos e da opressão, abandonam as suas terras “em busca de condições de vida dignas”. Pessoas que vivem a “experiência de Deus como companheiro de viagem”: […]

Na mensagem para o 110º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que se celebra em 29 de setembro, Francisco nos convida a rezar por aqueles que, fugindo dos abusos e da opressão, abandonam as suas terras “em busca de condições de vida dignas”. Pessoas que vivem a “experiência de Deus como companheiro de viagem”: “Quantas Bíblias, Evangelhos e Rosários acompanham as viagens através de desertos, rios, mares.”

Foi divulgada, nesta segunda-feira (03/06), a mensagem do Papa Francisco para o 110º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado que será celebrado em 29 de setembro próximo sobre o tema “Deus caminha com o seu povo”.

O Pontífice recorda no texto que, em 29 de outubro de 2023, terminou a primeira Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, na qual foi aprofundada a “sinodalidade vista como vocação originária da Igreja”.

Dimensão sinodal

“A ênfase posta na sua dimensão sinodal permite à Igreja descobrir a sua natureza itinerante de povo de Deus em caminho na história, peregrinante – poderíamos dizer «migrante» – rumo ao Reino dos Céus”, escreve o Papa, recordando “a narração bíblica do êxodo, que apresenta o povo de Israel a caminho da Terra Prometida: uma longa viagem da escravidão para a liberdade, que prefigura a da Igreja rumo ao encontro final com o Senhor. Da mesma forma, é possível ver nos migrantes do nosso tempo, como aliás nos de todas as épocas, uma imagem viva do povo de Deus em caminho rumo à Pátria eterna. As suas viagens de esperança lembram-nos que «a cidade a que pertencemos está nos céus, de onde certamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo»”.

“As duas imagens – a do êxodo bíblico e a dos migrantes – apresentam diversas analogias. Como o povo de Israel no tempo de Moisés, frequentemente os migrantes fogem de situações de opressão e abuso, de insegurança e discriminação, de falta de perspetivas de progresso. Como os hebreus no deserto, os migrantes encontram muitos obstáculos no seu caminho: são provados pela sede e a fome; ficam exaustos pelo cansaço e as doenças; sentem-se tentados pelo desespero”, ressalta o Papa.

Deus acompanha o caminho do seu povo

“Mas a realidade fundamental do êxodo, de qualquer êxodo, é que Deus precede e acompanha o caminho do seu povo, dos seus filhos de todo o tempo e lugar. A presença de Deus no meio do povo é uma certeza da história da salvação. Para o povo saído do Egito, tal presença manifesta-se de diversas formas: uma coluna de nuvem e de fogo indica e ilumina o caminho; a tenda da reunião, que guarda a arca da aliança, torna palpável a proximidade de Deus; a haste com a serpente de bronze assegura a proteção divina; o maná e a água são os dons de Deus para o povo faminto e sedento. A tenda é uma forma de presença particularmente querida ao Senhor. Durante o reinado de David, Deus recusa-se a ser encerrado num templo preferindo continuar a viver numa tenda e poder assim caminhar com o seu povo «de tenda em tenda, de morada em morada»”.

Deus como companheiro de viagem

“Muitos migrantes fazem experiência de Deus companheiro de viagem, guia e âncora de salvação. Confiam-se a Ele antes de partir, e recorrem a Ele em situações de necessidade. N’Ele procuram consolação nos momentos de desânimo. Graças a Ele, há bons samaritanos ao longo da estrada. Na oração, confiam a Ele as suas esperanças. Quantas bíblias, evangelhos, livros de orações e terços acompanham os migrantes nas suas viagens através dos desertos, rios e mares e das fronteiras de cada continente”, escreve ainda Francisco.

O Pontífice recorda na mensagem que “Deus caminha não só com o seu povo, mas também no seu povo, enquanto Se identifica com os homens e as mulheres que caminham na história – particularmente com os últimos, os pobres, os marginalizados –, prolongando de certo modo o mistério da Encarnação”.

O encontro com o migrante é encontro com Cristo

Segundo o Papa, “o encontro com o migrante, bem como com cada irmão e irmã que passa necessidade, «é também encontro com Cristo. Foi o que Ele mesmo disse. É Ele –faminto, sedento, estrangeiro, nu, doente, preso – que bate à nossa porta, pedindo para ser acolhido e assistido». Então cada encontro ao longo do caminho constitui uma oportunidade para encontrar o Senhor, revelando-se uma ocasião rica de salvação, porque na irmã ou irmão necessitado da nossa ajuda está presente Jesus. Neste sentido, os pobres nos salvam, porque nos permitem encontrar o rosto do Senhor”.

“Queridos irmãos e irmãs, neste Dia dedicado aos migrantes e refugiados, unamo-nos em oração por todos aqueles que tiveram de abandonar a sua terra à procura de condições de vida dignas. Sintamo-nos em caminho juntamente com eles, façamos «sínodo» juntos e os confiemos todos, bem como a próxima Assembleia Sinodal, «à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, sinal de segura esperança e de consolação no caminho do Povo fiel de Deus»”.

A mensagem do Papa conclui-se com a seguinte oração:

Deus, Pai omnipotente,

somos a vossa Igreja peregrina

a caminho do Reino dos Céus.

Habitamos, cada qual, na própria pátria

mas como se fôssemos estrangeiros.

Cada região estrangeira é a nossa pátria

e contudo cada pátria é, para nós, terra estrangeira.

Vivemos na terra,

mas temos a nossa cidadania no Céu.

Não nos deixeis tornar patrões

da porção do mundo

que nos destes como habitação temporária.

Ajudai-nos a não cessar jamais de caminhar,

juntamente com os nossos irmãos e irmãs migrantes,

rumo à habitação eterna que Vós nos preparastes.

Abri os nossos olhos e o nosso coração

para que cada encontro com quem está necessitado,

se torne um encontro com Jesus, vosso Filho e nosso Senhor.

Amém!

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