Francisco: com o “pão do amor”, reconstruir o que o ódio destrói

Na Basílica de São João de Latrão, Francisco presidiu neste domingo (02/06) a celebração eucarística na solenidade de Corpus Christi. A Eucaristia, explicou o Papa, “nos ensina a oferecer o pouco que temos e a render graças; a nos doar aos outros porque o egoísmo não traz liberdade, mas escravidão”. Ao término da Santa Missa, […]

Na Basílica de São João de Latrão, Francisco presidiu neste domingo (02/06) a celebração eucarística na solenidade de Corpus Christi. A Eucaristia, explicou o Papa, “nos ensina a oferecer o pouco que temos e a render graças; a nos doar aos outros porque o egoísmo não traz liberdade, mas escravidão”. Ao término da Santa Missa, a procissão eucarística seguiu até a Basílica de Santa Maria Maior e foi finalizada com a bênção do Santíssimo Sacramento.

O Papa Francisco presidiu na tarde deste domingo, 2 de junho, a Santa Missa da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo na Basílica de São João de Latrão, em Roma. Na Itália e em outros países, a Igreja celebra a festa de Corpus Christi no domingo seguinte à quinta-feira em que a solenidade é tradicionalmente comemorada.

Este ano, ao retornar a São João de Latrão, o Pontífice também retomou uma tradição iniciada pelo Papa João Paulo II, na qual, ao final da missa, teve início a procissão com o Santíssimo Sacramento em direção à Basílica de Santa Maria Maior, seguida da bênção eucarística, concedida pelo Santo Padre à multidão.

Durante a celebração, Francisco proferiu a homilia e recordou o gesto de Jesus presente no Evangelho de São Marcos, que narra a instituição da Eucaristia: “Tomou o pão e pronunciou a bênção” (Mc 14, 22). O Papa convidou os fiéis a refletir sobre as três dimensões do Mistério Eucarístico: o agradecimento, a memória e a presença.

A simplicidade agrada a Deus

Ao falar sobre o agradecimento, o Santo Padre sublinhou que “a palavra Eucaristia quer precisamente dizer obrigado”. Agradecer a Deus pelos seus dons, e nesse sentido o sinal do pão é importante.

É o alimento de cada dia, com o qual levamos ao Altar quanto somos e temos: “vida, obras, sucessos e também fracassos, como simboliza o gracioso costume existente em algumas culturas de apanhar o pão quando cai por terra e beijá-lo”. Segundo o Pontífice, essa atitude quer lembrar que o pão é precioso demais para ser lançado fora, mesmo depois de ter caído, e completou:

“Assim, a Eucaristia ensina-nos a abençoar, recolher e beijar, sempre em ação de graças, os dons de Deus, através do nosso trabalho realizado com amor, perfeição e cuidado, vivendo-o como um dom e uma missão.”

Presença real do Senhor

A segunda dimensão: “abençoar o pão”, significa fazer memória, destacou Francisco, “é reviver a Páscoa de Cristo, a sua Paixão e Ressurreição, com que nos libertou do pecado e da morte”:

“Fazer memória da nossa vida, fazer memória dos nossos sucessos, fazer memória dos nossos erros, fazer memória daquela mão estendida do Senhor que sempre nos ajuda a nos levantar; fazer memória da presença do Senhor na nossa vida.”

Jesus, fonte da verdadeira liberdade 

O Papa, ao se deter sobre o atual conceito de liberdade, disse que “há quem diga que é livre quem pensa apenas em si mesmo, quem aproveita a vida e quem, com indiferença e talvez com arrogância, faz tudo o que lhe apetece sem respeitar os outros”, mas isto não é liberdade, é uma escravidão escondida:

“A liberdade não se encontra nos cofres de quem acumula para si, nem nos sofás de quem se acomoda preguiçosamente no desinteresse e individualismo: a liberdade encontra-se no Cenáculo, onde uma pessoa, sem outro motivo para além do amor, se ajoelha diante dos irmãos oferecendo-lhes os próprios serviços, a própria vida como ‘salvados’.”

Devolver ao mundo o “pão do amor”

Francisco, ao abordar a terceira dimensão, sublinhou que o Pão Eucarístico é presença real de Cristo, “de um Deus que não está distante nem é ciumento, mas próximo e solidário com o homem”. E esta sua presença convida, também a nós, a aproximar-nos dos nossos irmãos nas situações onde o amor nos chama; e como é grande a necessidade, que há no nosso mundo, deste pão, da sua fragrância e do seu aroma, que sabe de gratidão, liberdade e proximidade:

“Dia a dia vemos cada vez mais estradas que outrora cheiravam a pão fresco, e hoje estão reduzidas a montões de escombros por causa da guerra, do egoísmo e da indiferença. É urgente devolver ao mundo o aroma bom e fresco do pão do amor, para continuar a esperar, sem nunca se cansar, e a reconstruir o que o ódio destrói.”

A procissão com o Santíssimo Sacramento

Ao término da celebração, houve a procissão eucarística pela rua Merulana até a Basílica de Santa Maria Maior, onde foi concedida a bênção. Francisco, na conclusão de sua homilia, explicou o significado desse gesto:

“Partindo do Altar, levaremos o Senhor por entre as casas da nossa cidade. Não o fazemos para nos exibir, nem para ostentar a nossa fé, mas para convidar a todos a participarem no Pão da Eucaristia, da vida nova que Jesus nos deu.”

Desde 2017, a tradicional celebração na Basílica de Latrão seguida pela procissão até Santa Maria Maior não acontecia. Em 2018, Francisco escolheu celebrar por dois anos consecutivos a solenidade do Corpus Christi na periferia de Roma. Posteriormente, primeiro a emergência pandêmica e depois problemas de saúde do Papa impediram a realização regular da liturgia com a participação dos fiéis.

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